terça-feira, janeiro 10, 2006

Uma questão de escolha...

Engravidei em Abril, e descobri dia 17 de Maio de 2005. Estava de 6 semanas.

A um mês e pouco dos exames nacionais, prestes a entrar na Universidade, a última coisa que eu poderia querer naquela altura era estar grávida. Mas estava.
Não posso negar que pus logo de parte a hipótese de fazer um aborto, porque eu tinha essa opção. Em Portugal não é permitido (nas minhas circunstâncias) , mas isso não me impediria, se assim o quisesse, tal como não impediu várias pessoas que conheci, e que os fizeram. Existem clínicas que o fazem, e Espanha fica a duas horas de viagem. Quando uma mulher está realmente decidida a abortar, nada a impede, nem mesmo uma lei.
Mas no meu caso até era mais fácil. A minha mãe morava, nessa altura, em Espanha, e todas as férias (de Natal, Páscoa, Verão) eu ia para lá. Estando em Maio, acabando os exames no início de Julho e indo para Espanha nessa altura, estaria de 12 semanas, a gravidez não se teria notado até então, e eu abortaria. Ninguém precisava de saber (salvo a minha mãe), nem mesmo o Tiago, se eu assim o quisesse.

Por vezes, tenho a sensação que as pessoas me querem perguntar porque motivo eu não abortei, visto que teria tantas facilidades, condições, e riscos reduzidos ao máximo.
Eu não queria! Tinha medo de todos os riscos que um aborto implicaria, mas principalmente, tinha medo da minha consciência, tinha medo de me arrepender. E soube, de imediato, que iria tomar a decisão correcta. E tomei!
Antes de me decidir, falei com o Tiago sobre esta hipótese, porque a responsabilidade era dos dois, e a decisão também. Se já estava inclinada (inclinadíssima) para seguir em frente com a gravidez, ouvir o que o Tiago tinha a dizer deixou-me ainda mais segura: "Eu não quero, e não te deixo!".
O assunto ficou por ali.

Sou a favor do aborto, as mulheres devem ter essa opção. No entanto, a legalização do aborto em Portugal iria ter, muito provavelmente, consequências devastadoras. Há falta de civismo, de consciência e de informação, e o aborto passaria a ser, em certo ponto, usado como um método contraceptivo. Mas não há situações perfeitas e, decidididamente, a que se vive agora está bem longe de o ser.

O facto de ser a favor do aborto, não implica necessariamente que o fizesse, caso engravidasse numa altura indesejada.
O facto de ser a favor do aborto implica, apenas, que devo ter o direito de optar.
E optei. Porque o não também é uma escolha.

Por vezes penso nisso, penso em como seria a minha vida, em como me sentiria se tivesse abortado... Agora estava na mesma Universidade, ou talvez estivesse em Espanha, talvez estivesse com o Tiago, talvez não, nunca saberei... Sei apenas de uma coisa: Estivesse onde estivesse, e com quem estivesse, de certeza absoluta que não iria suportar viver comigo mesma.

A Beatriz foi a melhor coisa que me aconteceu! Independentemente da minha idade, estado civil ou situação laboral.
E agradeço todos os dias a minha sábia decisão.

11 Comments:

Anonymous Anónimo said...

se ha coisa que eu me lembro bem daqueles dias do 12º são as discussões que xegaste a ter com a Amélia sobre esse assunto. Eu tenho exactamente a mm opinião que tu...sou a favor do aborto, mas axo que falta a muita gente o discernimento necessário para fazer um. Um aborto não deve ser levado como uma coisa ligeira que se faz quando ocorre um imprevisto. tem outras implicações, de outro nível que devem ser tomadas em conta...SEMPRE! e eu tb axo isso...que provavelmente a sua legalização iria levar muitas pessoas a olharem para este acto como um método contraceptivo...é triste, mas axo que é a realidade de muitas cabecinhas portuguesas!

Lembro-me quando soube... fiquei admirada...fiquei um bocadinho em "xoque", talvez! mas foi um xoque pela positiva...foi um xoque de alguém que pela primeira vez tinha uma amiga nakela situação em vez da mãe da amiga ou da tia ou da prima..lol entendes?!

Fiquei super animada quando assentei a ideia..eheh!! Lembrast d eu e a Gui irmos no comboio a dizer que dp tricotavamos uma camisolinha para a tua filhota? x) eu lembro-me! tb m lembro d concluirmos que não valia a pena pk a camisola sairia certamente com 3 braços e vários buracos para o pescocito...ehehe :P

ai ai ai doidas!! ;)

bjinhus miga!! bjokas na brrigota! :)

terça-feira, 10 janeiro, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Olá... Descobri o teu blog por acaso e decidi deixar um comment neste post específico.

Mas antes demais, deixa-me dar-te os parabéns pelo teu estado.

A tua decisão e o teu comentário são-me muito familiares...
Em Janeiro de 2004 decobri que estava grávida. Eu estava no 2º ano de faculdade. Por muita vontade que tinha/tenho de vir a ser mãe sabia que ainda não estava na altura. Não queria deixar o curso a meio, financeiramente não seria problema de ter um filho mas eu vivo com os meus pais. Eles não tinham de de ser responsáveis por um erro meu! Falei com o meu namorado... Decidimos abortar. Era a única solução.
Devo-te dizer que apesar da cabeça estar preparada para a decisão em questão, o corpo nunca está nem o coração. Chorei muito antes/durante/depois...
O que quero dizer é que (acho) ninguém toma uma decisão destas de ânimo leve, muito menos como método contraceptivo...

De qualquer forma, desculpa o desabafo.
Muitas felicidades para ti e para a tua bebé.

terça-feira, 10 janeiro, 2006  
Blogger Desconhecida said...

Bela reflexão, linda!

um beijinho

terça-feira, 10 janeiro, 2006  
Blogger Carina said...

Eu sou contra, precisamente pelo que disseste que poderia acontecer caso fosse legalizado. E apesar do que a Sofia acima escreveu, muita gente tomaria sim, essa decisão de ânimo leve. Talvez apenas tomasse consciência no "durante" e no "pós" aborto. E tudo isto por este país não ter muita consciencialização dos factos. Mas existe informação, estamos no século XXI, existem vários métodos contraceptivos e maneiras quase 100% fiáveis de se evitar uma gravidez indesejada. No meu caso, engravidei e foi uma surpresa, mas sabia que podia engravidar uma vez que deixei de tomar a pílula. Pílulas normais, trifásicas, preservativos normais e mais fortes, DIU e tantos outros... Na minha opinião (salvo pessoas sem acesso à informação) só engravida quem quer e o aborto legalizado não é, para mim, solução para a questão colocada.

E fizeste tu muito bem na tua muito SÁBIA decisão!

Beijos e esquece abortos, estás prestes a passar por um NASCIMENTO e a única interrupção que vais ter vai ser do momento em que deixas de estar grávida e passas a ser MÃE!

terça-feira, 10 janeiro, 2006  
Blogger sonia said...

Aplaudo e tiro o chapeu ao que escreves-te. é de uma maturidade incrível.

Beijinhos e mtas felicidades.

terça-feira, 10 janeiro, 2006  
Blogger Nita said...

Só hj descobri o teu blog e não posso deixar de dizer que és uma pessoa de muita coragem!Tenho a tua idade e não sei o que faria! Ainda bem que está tudo bem ctg e com a Beatriz! Quero que td corra bem e que sejam mt felizes! Vai dando novidades :D *** Bjinhos mt grandes *

terça-feira, 10 janeiro, 2006  
Blogger Carla Santos Alves said...

Minha amiga!

Muito bem escrito, muito bem pensado!

Que orgulha ter uma miuda ( desculpa mas tens 19 anos e eu 31, por isso para mim é uma miuda!)a falar desta forma e com esta coragem!

Se estivesse ao teu lado dava-te uma beijoca!~

ès linda e a beatriz vai de certeza orgulhar-se de ter uma MÃE como tu!

Bjs

Carla

quarta-feira, 11 janeiro, 2006  
Blogger Clara said...

A tua decisão foi do melhor que pode haver! O resto há-de compor-se.
Desejo-te toda a felicidade do mundo, a ti e á tua menina que se ainda não nasceu, deve estar mesmo, mesmo quase.
É bom saber que se é amamo!

Beijinhos

quarta-feira, 11 janeiro, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Olá, eu também sou a favor do aborto mas este é ,sem dúvida, um tema sempre polémico e sempre actual.
A possibilidade de escolha é das expressões mais visíveis da liberdade mas, como disseste a escolha também engloba o não e eu, depois de ter tido os meus 2 filhos e estar grávida do 3º também digo que só o fariaem condições muito especiais e, mesmo assim, seria algo que não esqueceria nunca. É uma decisão muito pessoal, pela qual não devem, nunca, ser feitos juízos de valor.
1 abaço e muitas felicidades para ti e para a tua bebé.
Sónia
Doula

quarta-feira, 11 janeiro, 2006  
Blogger Mãe Gabi said...

muitas felicidades que tenhas uma horinha bem pequenina.beijos enormes

quarta-feira, 11 janeiro, 2006  
Blogger Jane & Cia said...

Conheci agora o teu blog, continuarei a ler para vos conhecer melhor, mas antes de mais quero dar-te os parabéns pela tua decisão, que penso que foi também corajosa. Que a vida te dê em felicidade o que mereces por ter decidido dar vida à Beatriz!*

quarta-feira, 11 janeiro, 2006  

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